terça-feira, 15 de julho de 2025

A pluralidade que nos define



A pluralidade não é apenas uma característica desejável nas sociedades contemporâneas; no nosso caso, é um traço fundamental da identidade coletiva. Portugal foi moldado por séculos de encontros e diálogos, de partidas e regressos, de trocas culturais que nos tornaram o país diverso e acolhedor que somos hoje. Encarar as migrações com seriedade, humanidade e visão de futuro é uma necessidade prática, mas é também uma responsabilidade histórica.

Apesar disso, vivemos um tempo de retração. Erguem-se barreiras burocráticas, legais e simbólicas à entrada e integração de pessoas oriundas dos países de língua portuguesa, muitas das quais partilham connosco história, valores e língua. Em nome da segurança ou da “gestão controlada”, dificultamos o acesso à nacionalidade e à plena participação social a milhares de pessoas que procuram em Portugal o mesmo que, tantas vezes, os portugueses procuraram noutros lugares: segurança, dignidade, trabalho e esperança.

É legítimo que o Estado defina regras claras para a entrada e permanência de cidadãos estrangeiros, mas essa gestão só é verdadeiramente responsável se for orientada por princípios de justiça, solidariedade e coerência com a nossa própria história. O que está em causa não é apenas uma questão administrativa: é uma escolha política e ética sobre o país que queremos ser.

Os migrantes que chegam a Portugal não vêm “tirar” nada a ninguém. Pelo contrário: trazem competências, saberes, culturas, força de trabalho e energia. Respondem a necessidades reais da nossa economia, ajudam a equilibrar o envelhecimento demográfico e contribuem para a vitalidade das comunidades locais. Não os reconhecer como parte integrante da sociedade é desperdiçar talento, criar exclusão e alimentar tensões desnecessárias.

Não podemos ceder às narrativas que exploram o medo e fomentam a desconfiança. Essas narrativas desvalorizam a riqueza que nasce da diversidade e alimentam divisões que fragilizam a sociedade e a democracia. A história ensina-nos que sociedades que se fecham sobre si mesmas, que alimentam preconceitos e excluem quem é diferente, tornam-se mais frágeis, mais injustas e menos livres.

A diversidade enriquece a nossa identidade e faz-nos crescer como sociedade. Obriga-nos a questionar hábitos, a reavaliar certezas e a reinventar a convivência. Um país plural é aquele que reconhece que ninguém deve ser definido apenas pela sua origem, mas pelo seu contributo, pelos seus valores e pela vontade de fazer parte de um projeto comum.

Construir um país plural e justo exige coragem política, responsabilidade institucional e empatia social. Exige políticas públicas que assegurem integração plena, garantindo acesso à educação, à saúde, ao trabalho digno e à participação cívica. Exige, igualmente, um discurso público que rejeite o ódio, valorize o respeito mútuo e celebre o encontro entre diferentes comunidades.

O futuro de Portugal não se assegura erguendo muros nem alimentando desconfianças. Constrói-se com políticas eficazes, com reconhecimento das contribuições de todos os que aqui vivem e com justiça social que não deixe ninguém à margem. A pluralidade é uma herança histórica e um imperativo estratégico para o país que queremos ser: mais resiliente, mais dinâmico e capaz de enfrentar os desafios globais. Integrar plenamente quem chega até nós, mais do que um gesto de solidariedade, é uma condição para o progresso económico, social e democrático de Portugal.

Diário de Coimbra, 15.7.2025

Sem distracções


Por Anabela Fino 
As palavras de ordem “Palestina Livre” e “Morte às IDF” foram proferidas pela dupla de punk rap Bob Vylan num concerto transmitido em directo pela BBC. Tornaram-se num assunto de Estado: Keir Starmer, primeiro-ministro britânico, condenou o sucedido; a embaixada israelita denunciou a “retórica odiosa”; os EUA revogaram os vistos da banda; a United Talent Agency cancelou a sua representação do grupo; a BBC retirou a gravação do ar, emitiu uma declaração de desagravo e acabou com os directos; a polícia britânica iniciou uma investigação não se sabe a quê. A criminalização do activismo pró-Palestina e a identificação de crítica com anti-semitismo aumentam na razão directa da crescente impossibilidade de negar o genocídio. Criminoso é quem comete genocídio, não quem o denuncia.

«Hoje, muitas pessoas querem fazer-vos acreditar que uma banda punk é a ameaça número um à paz mundial. Não somos a história. Somos uma distracção da história. E quaisquer sanções que recebamos serão uma distracção. O governo não quer que perguntemos por que razão se mantém em silêncio perante esta atrocidade? Que perguntemos por que não fazem mais para parar a matança? Para alimentar os famintos?»

As palavras acima constam da declaração emitida pela dupla de punk rap Bob Vylan, na sequência do escarcéu suscitado pela sua condenação das IDF [Forças de Defesa de Israel], durante a actuação no palco West Holts do Festival de Glastonbury, a 28 de Junho. De forma certeira, a banda põe a nu a hipocrisia sem limites das chamadas democracias ocidentais no que respeita à questão da Palestina e a conivência com os crimes de Israel.

A criminalização do activismo pró-Palestina e a identificação de crítica com anti-semitismo aumentam na razão directa da crescente impossibilidade de negar o genocídio. Não há memória de os genocidas anunciarem tão claramente as suas intenções como faz Israel. Consulte-se a documentação apresentada pela África do Sul no Tribunal Internacional de Justiça. Alguns exemplos: diz Benjamin Netanyahu que esta é «uma luta entre os filhos da luz e filhos das trevas, entre a humanidade e a lei da selva»; «estamos a enfrentar monstros… Esta é uma batalha não apenas de Israel contra esses bárbaros, é uma batalha da civilização contra a barbárie».

O presidente Isaac Herzog, que escreve mensagens à mão nas bombas lançadas sobre Gaza, não destoa: «É uma nação inteira lá fora que é responsável … lutaremos até lhes quebrarmos a espinha»; «erradicaremos o mal para bem de toda a região e do mundo».

Os ministros fazem coro: «cerco completo a Gaza. Sem electricidade, sem comida, sem água, sem combustível. Tudo está fechado. Estamos a lutar contra animais humanos»; «são todos terroristas e devem ser destruídos».

EUA, NATO, UE aplaudem e apoiam o regime sionista, o terrorismo de Estado, a ocupação, o apartheid, o genocídio dos palestinianos, os assassinatos de estrangeiros, a invasão e ocupação de outros países. Criminosos, nesta versão distópica da “democracia”, são os que denunciam os crimes, os que não se calam, os que não se rendem. A ver se nos distraem do essencial. Em vão. Por cada um que cair, outro virá para empunhar a bandeira.

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Criminalizar o racismo- análise de Teresa Pizarro Beleza

 


Catedrática de Direito Penal jubilada da Nova School of Law
Diário de Notícias, 19 Fev 2025

«A discriminação racial atinge diretamente o cerne do Estado de Direito, por comprometer a igualdade e a dignidade que devem ser salvaguardadas pela lei. Persistir em tratar estas matérias como simples infrações contraordenacionais é perpetuar a impunidade e desvalorizar os princípios constitucionais que formam a base da nossa ordem jurídica.»

Este é o centro da argumentação contida no texto da «iniciativa cidadã» que propõe a criminalização de actos racistas e xenófobos, entre outros de natureza e implicações discriminatórias de que aqui não trato.

O chamado Direito de mera ordenação social, que tipifica contraordenações, sancionadas com coimas ou outras medidas punitivas mas nunca com privação da liberdade, foi criado para deixar de fora do Direito Penal factos de gravidade menor ou pelo menos causadores de mais leve censura social do que os crimes. Permitia também o sancionamento de pessoas colectivas (sociedades comerciais, por exemplo) o que à data (1982) não era possível no Direito Penal propriamente dito. Muita coisa se foi alterando e as sanções hoje passíveis de serem aplicadas a pessoas colectivas podem atingir valores muito significativos, como recentemente foi notícia sobre alguns casos.

Em 1948, no rescaldo do horror dos crimes contra a Humanidade cometidos durante a chamada II Guerra Mundial, a Declaração Universal dos Direitos Humanos proclamou, na senda da Carta das Nações Unidas, os princípios básicos de dignidade e igualdade entre todos os seres humanos. A força vinculativa que fazia falta veio com os dois Pactos Internacionais sobre Direitos Civis e Políticos e sobre Direitos Económicos, Sociais e Culturais, em 1966.

Muito cedo a ONU percebeu que certas áreas mais problemáticas ou grupos populacionais particularmente vulneráveis precisavam de protecção acrescida, especializada. E assim começa a produção de Convenções que incidem sobre alvos precisos e pré-determinados.

A primeira dessas Convenções é justamente a ICERD, acrónimo de «Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial», de 1965. Anterior, portanto, mesmo aos dois referidos «Pactos». Porquê? Porque os horrores do Nazismo, do Fascismo e do Colonialismo – que também com eles conviveu e se misturou - estavam a tornar-se demasiado conhecidos, senão mesmo óbvios, e condenados como protótipos de discriminação de raiz essencialmente étnico-racial para poderem ser esquecidos na legislação internacional. Por razões em alguma medida paralelas, a Convenção sobre o Genocídio (1951) e as chamadas Convenções de Genebra (1949) já se tinham antecipado no plano internacional. Assim como os julgamentos de Nuremberga e Tóquio – que não tiveram, na verdade, equivalente histórico em tribunais com jurisdição internacionalmente reconhecida sobre os crimes do Colonialismo.

Portugal atrasou-se no início da descolonização. O Estado Novo insistiu no «Para Angola e em força» e, entre 1961 e 1974, tentou manter o seu domínio anacrónico sobre as Colónias que insistia em chamar «Províncias Ultramarinas». O preço foi altíssimo em vidas humanas e atraso na libertação e autodeterminação dos povos colonizados, apesar das insistências e condenações da ONU, que Portugal se recusava a cumprir.

A Constituição da República de 1976 deu forma jurídica ao regime saído da Revolução que se inicia com o golpe militar de 25 de Abril de 1974. É clara a preocupação da Constituinte com o resguardo contra o «fascismo» e o «racismo». Recebendo como instrumento interpretativo privilegiado a DUDH, aceitando a recepção directa do Direito Internacional devidamente aprovado e ratificado, proíbe partidos políticos e organizações de carácter fascista ou racista.

O Direito Penal, dizemos nós, cultores desta área, e assim mesmo impõe a própria Constituição, só deve intervir em matérias em que seja necessário e provavelmente eficaz. Será o caso das manifestações de atitudes racistas ou xenófobas que se traduzam em palavras, em actos, em decisões ou exclusões discriminatórias?

A informação que resulta do inquérito do INE (ICOT, 2023) indicia uma alta percentagem de discriminação sofrida entre a população residente em Portugal. As notícias recorrentes de actos de violência de conotação racista contra negros, ciganos ou contra membros de outros grupos étnico-racialmente conotados como ‘diferentes’ ou ‘minoritários’ por contraposição aos chamados «brancos», a vulgaridade de insultos e a repetição de violência oficial – pelas forças de segurança, pela atitude de alguns juízes, etc – torna por demais evidente que a relevância da ausência de membros representantes dessas populações em posições de poder de decisão política, económica ou académica, precisa de ser levada mais a sério.

O Plano Nacional de Combate ao Racismo e à Discriminação 2021-2025, intitulado «Portugal contra o Racismo», elaborado na sequência das sugestões do Grupo de Trabalho que ao longo de meses contribuiu pro bono para a sua redação, reconhece o carácter estrutural e sistémico do racismo em Portugal, pela mão de membros do Governo de então, logo no início do documento. Mas das muitas medidas que o Plano propõe, pouco ou muito pouco terá sido cumprido e executado. O mesmo se poderá aliás dizer das Recomendações da ECRI, a agência que lida com a discriminação e a intolerância no âmbito do Conselho da Europa.

Criminalizar o Racismo para além dos limites estreitos do actualmente previsto no Código Penal, que cumpre de forma limitada o imposto pela ICERD, livremente assinada e ratificada pelo Estado português, é um passo que terá de ser dado para contrariar de forma mais eficaz, dissuadindo-a, a prática comum de agressões directas às pessoas em aspectos fundamentais da sua vida e dignidade.

Provavelmente encontrará muitas resistências. A ilusão sobre a inexistência ou a irrelevância do racismo em Portugal perdura, apesar de tanta demonstração em contrário. Em meu entender, o reconhecimento da gravidade extrema dos actos racistas, que se traduz na sua criminalização efectiva, é também uma pequena mas relevante contribuição para a «indemnização moral» aos povos colonizados e escravizados pelo Império português. E uma forma tardia mas ainda válida de reconhecimento da contribuição essencial dos Movimentos de libertação das Colónias para o fim da Ditadura do «Estado Novo». É mais um passo na descolonização que Portugal tardou em iniciar e que continua incompleta, apesar de tanta declaração e convicção em contrário.

Músicas HUMANAS - Um filme de Yann Arthus-Bertrand / Composto por Armand Amar

Um verme ancestral acaba de acordar de um congelamento de 46.000 anos


Conheça o Panagrolaimus kolymaensis — o verme da Era Glacial que desafiou a extinção.

Num impressionante renascimento da Era Glacial, cientistas conseguiram despertar um verme microscópico que permaneceu congelado no permafrost siberiano por impressionantes 46.000 anos.

Identificado como Panagrolaimus kolymaensis, esse antigo nematoide foi descoberto a 40 metros de profundidade, na Sibéria, onde permaneceu em animação suspensa desde a época em que os primeiros humanos pintavam cavernas. Ao descongelar, o verme voltou à vida, alimentou-se de bactérias numa placa de Petri, reproduziu-se assexuadamente e morreu — deixando para trás uma nova geração para os pesquisadores estudarem.

Publicado na PLOS Genetics, o estudo revela a extraordinária capacidade do verme de sobreviver a estresse ambiental extremo. Assim como seu parente Caenorhabditis elegans, o P. kolymaensis provavelmente resistiu ao congelamento por meio da secagem e do uso de moléculas protetoras como a trealose. As implicações vão muito além da biologia antiga: esse feito de sobrevivência expande os limites conhecidos da criptobiose e sugere que a vida poderia persistir em ambientes hostis muito além da Terra — levantando novas questões para a exploração espacial e a definição da resiliência da vida.

Saber mais:

domingo, 13 de julho de 2025

The Durutti Column- Estoril à Noite

O Império é um constante insulto à nossa inteligência

Fonte: Caitlin Johnstone

Os EUA impuseram sanções à relatora especial do Conselho dos Direitos do Homem da ONU, Francesca Albanese, por ter usado a sua posição para se opor ao genocídio mais exaustivamente documentado da história. 

Simultaneamente, os EUA retiraram o HTS, o franchising sírio da Al-Qaeda, da sua lista de organizações terroristas, porque o seu líder levou a cabo com êxito a mudança de regime em Damasco que o império ocidental perseguia há anos. 

Ao mesmo tempo, o Reino Unido acrescentou o grupo de ativismo não violento anti-genocídio Palestine Action à sua lista de organizações terroristas proibidas por se opor ao holocausto de Gaza. 

Ao mesmo tempo, o Primeiro-Ministro israelita que está a levar a cabo esse holocausto nomeou para o Prémio Nobel da Paz o Presidente americano que está a ajudar a perpetrar atrocidades genocidas. (…) O império ocidental é um insulto incessante à nossa inteligência. 

Os defensores da paz são terroristas, os arquitetos do genocídio merecem prémios da paz, os jornalistas são perigosos (…) 

Fazem tudo o que podem para nos tornar estúpidos através da propaganda, do controlo da informação de Silicon Valley e de sistemas de ensino doutrinários, e depois tratam-nos como se fôssemos idiotas para o resto das nossas vidas. O império depende da ignorância. Quanto mais estúpidos, racistas, ingénuos e facilmente distraídos nos tornarmos, mais agendas nefastas o império pode implementar. (…)”

The US has imposed sanctions on UN Human Rights Council Special Rapporteur Francesca Albanese for using her position to oppose the most thoroughly documented genocide in history.

At the same time, the US has removed Syria’s Al Qaeda franchise HTS from its list of designated terrorist organizations, because its leader successfully carried out the regime change in Damascus that the western empire had been chasing for years.

At the same time, the UK has added nonviolent anti-genocide activism group Palestine Action to its list of banned terrorist organizations for opposing the Gaza holocaust.

At the same time, the Israeli prime minister who is carrying out that holocaust has nominated the American president who is helping him perpetrate genocidal atrocities for a Nobel Peace Prize.

At the same time, Israel has continued its ban on foreign journalists entering Gaza, while also arresting the Israeli journalist who helped expose the IDF officials who cooked up fake atrocity propaganda about burnt babies on October 7.

At the same time, the Trump administration has enraged its MAGA base by concluding that Jeffrey Epstein had no client list for any kind of sexual blackmail operation and definitely committed suicide.

The western empire is one nonstop insult to our intelligence. The peace advocates are terrorists, the genocide architects deserve peace prizes, the journalists are dangerous, and Epstein was just a wealthy socialite who made a few mistakes.

They do everything they can to make us stupid via propaganda, Silicon Valley information control, and indoctrination schooling systems, and then they treat us like we’re morons for the rest of our lives.

The empire depends on ignorance. The more stupid, racist, gullible, and easily distracted we become, the nastier agendas the empire can roll out. Now here we are watching a live-streamed genocide unfold right in front of our eyes for nearly two years while being tube fed a daily diet of the most ridiculous lies imaginable.

As Aaron Bushnell said, this is what our ruling class has decided will be normal.

No interior do país, deu-se uma lição de humanidade.


Em Carvalhais, freguesia de São Pedro do Sul, a marcha popular integrada nas festas da cidade teve como tema o multiculturalismo.
Oito nacionalidades diferentes a desfilar, juntas, ao ritmo da música e da tradição.
Lado a lado, integraram-se. Celebraram, em comunidade. 
Num tempo em que o ódio e a divisão ganham espaço, foi do interior do país que chegou a lição de que uma comunidade unida na diversidade é a resposta mais forte contra o medo e o preconceito.

sábado, 12 de julho de 2025

Marci Shore saiu dos EUA e agora deixa o aviso: "A Europa não deve absolutamente confiar em nós"



A grande questão neste momento, defende Marci Shore, "é saber quem vai forçar quem" na "situação sem precedentes" em que os Estados Unidos se encontram. "Trump e Vance não são omnipotentes nem imortais, são habilitados por muitas outras pessoas, incluindo quase todos os republicanos".

Isso é notório, por exemplo, na recente aprovação da "lei grande e bela" que vai enriquecer os mais ricos e empobrecer os mais pobres, num país que está a resvalar para o autoritarismo. "O terror atomiza-nos, e os regimes tirânicos alimentam-se dessa atomização – e o único antídoto é a solidariedade ", ressalta a historiadora especializada em fascismo.

Aos que dizem que a América será salva pelos "pesos e contrapesos" que sempre orientaram a política norte-americana, Shore deixa um aviso. "As estruturas e instituições não são proteções mágicas e sobrenaturais, são criadas e geridas por pessoas" – e se a História nos mostra algo, é a facilidade com que coisas impensáveis são normalizadas. "Os seres humanos têm uma capacidade extraordinária de normalizar o anormal; o que parecia inconcebível num dado momento pode tornar-se o novo normal alguns meses mais tarde, e mal nos apercebemos de como as fronteiras recuaram."

Com uma carreira de décadas dedicada à cultura eslava e à Europa Central e de Leste, Shore trocou a Universidade de Yale, nos EUA, pela Universidade de Toronto, no Canadá, uma decisão que, garante, foi tomada após muita ponderação em família. Se dependesse do marido, o historiador e escritor Timothy Snyder, é possível que a mudança nunca tivesse acontecido. "O meu marido não é uma pessoa ansiosa por natureza. Se estivesse sozinho, teria regressado a New Haven, não apesar, mas precisamente por causa da vitória de Trump, para lutar pela democracia dos Estados Unidos."

Ao ver o vídeo que o NYT fez consigo e com outros dois especialistas em Fascismo da Universidade de Yale, Jason Stanley e o seu marido, Timothy Snyder, achei muito marcante a analogia que faz com o Titanic, em relação a esta ideia do ‘excecionalismo americano’. Continua a haver muita gente, dentro e fora dos Estados Unidos, a acreditar que os pesos e contrapesos vão impedir o navio de se afundar, apesar de a realidade apontar na direção oposta. Vislumbra alguma forma de esses pesos e contrapesos prevalecerem, por exemplo, por via das eleições intercalares no próximo ano ou do ramo judiciário? Ou estamos destinados a ver o navio afundar-se?
Não existe nada “destinado”. Os “pesos e contrapesos” referem-se a estruturas e instituições – não são proteções mágicas e sobrenaturais, são criadas e geridas por pessoas. Há certamente juízes que estão a recuar e a dizer ‘não’ – e a administração Trump está, muitas vezes, a recusar-se a honrar essas decisões judiciais. Torna-se então uma questão de saber quem vai forçar quem. Esta é, de certa forma, uma situação sem precedentes nos Estados Unidos.

E como se sai dessa situação?
Tudo depende das pessoas. Trump não é omnipotente nem imortal – e JD Vance também não. Eles são habilitados por muitas outras pessoas – incluindo quase todos os membros republicanos do Congresso, que fizeram barganhas faustianas. Esta “Lei Grande e Bela”, que priva milhões de americanos de cuidados de saúde e milhões de crianças de comida, não teria sido aprovada se o Partido Republicano não tivesse alinhado com Trump. Eles podiam dizer ‘não’.

A votação no Senado estava a 50-50 antes de JD Vance ter dado o voto de desempate na sua qualidade de vice-presidente. Juntamente com todos os democratas, três senadores republicanos votaram contra. Se mais um senador republicano tivesse votado contra, o projeto de lei não teria sido aprovado.

Logo após o voto, o meu irmão, que é compositor de ópera, publicou este vídeo [uma música chamada “Na noite passada sonhei que vi Jesus”, que termina com o verso “E ele disse-me que eu podia ir para o inferno” e com a adenda: “Mantenham-se seguros, amigos – e não fiquem doentes”. Desde a eleição de Trump, Dan Shore tem usado os seus dotes musicais para compor sátiras políticas de protesto contra as políticas da administração.]

Em tempos como estes, as pessoas tentam encontrar esperança onde quer que seja e muitas estão algo esperançosas perante notícias recentes como a libertação de Mahmoud Khalil, ativista da Universidade de Columbia, e a vitória de Zohran Mamdani nas primárias democratas à Câmara Municipal de Nova Iorque. O que podem estes eventos indiciar no contexto da busca por um caminho alternativo para os EUA?
Os Estados Unidos são um país profundamente dividido, é por isso que todas as eleições presidenciais são uma competição por um grupo demográfico relativamente mínimo, os chamados “swing voters”, ou eleitores indecisos. Há uma verdadeira resistência, há momentos de esperança, e é importante estar ciente e reconhecer esses momentos.

Estou a participar numa iniciativa do Seminário de Democracia da New School para documentar “pequenos atos de resistência democrática”. Este site pretende ser uma plataforma de solidariedade, reconhecimento e apoio moral, mas também um recurso para jornalistas, especialmente jornalistas fora dos Estados Unidos.

Recentemente, deu uma palestra na Universidade Metropolitana de Toronto onde avisou os canadianos – numa mensagem também dirigida, presumo, aos europeus e a outras sociedades – que “não podem confiar” no atual governo americano e que, por conseguinte, não podem confiar nos Estados Unidos. A verdade, porém, é que a arquitetura da relação transatlântica assenta nesta dependência europeia dos EUA, por exemplo, em matéria de defesa e segurança. Quão exequível seria “sair” desta relação? Ou existe outra forma de negociar (e fazer acordos) com os EUA, reduzindo essa dependência?

Eu nem sequer o descreveria como uma mudança de paradigma, mas sim como um salto para o niilismo. Para Trump, não existe a verdade versus a mentira ou o bem versus o mal; existe apenas o que é vantajoso ou desvantajoso para si próprio num dado momento. Todas as relações são puramente transacionais. Não existem valores ou princípios.

Estamos a olhar para um abismo. Pode acontecer, claro, que algo que Trump entenda como sendo do seu interesse num determinado momento tenha, por acaso, efeitos positivos – mas isso não deve ser mal interpretado como uma política coerente ou um paradigma que reflita qualquer tipo de valores consistentes.

A Europa não deve absolutamente confiar em nós. É isto mesmo: o fim do namoro.

Num artigo que escreveu em maio, afirmava que se deve “evitar fetichizar” conceitos como autocracia, fascismo, autoritarismo, etc., porque “nenhuma situação histórica é exatamente igual a outra”. Ainda assim, impõe-se a pergunta: que lições é que o passado pode ensinar-nos no que toca a lutar contra este sentimento de paralisia da sociedade?
Conceitos como o fascismo são muito úteis, só não devem ser fetichizados. Quanto às lições: os seres humanos têm uma capacidade extraordinária de normalizar o anormal. O que parecia inconcebível num dado momento pode tornar-se o novo normal alguns meses mais tarde, e mal nos apercebemos de como as fronteiras recuaram. Habituamo-nos a uma nova realidade e depois não conseguimos ver verdadeiramente o que está a acontecer à nossa volta.

Após as eleições de novembro de 2016, o comediante John Oliver disse ao seu público televisivo: "Vai ser demasiado fácil as coisas começarem a parecer normais – especialmente se se for alguém que não é diretamente afetado pelas ações [da administração Trump]. Por isso, lembrem-se: isto não é normal. Escreva-o num post-it e cole-o no seu frigorífico." O contexto era um programa de comédia política, mas isto não era uma piada, e o conselho de John Oliver foi absolutamente correto.

Há aqui dois desafios: abanar a sociedade, para que reconheça as implicações aterradoras da livre expressão da violência e da crueldade, e encontrar métodos para fundamentar o nosso discurso na verdade empírica"

É essencial não normalizar o anormal. É também essencial insistir na verdade – procurando-a, dizendo-a em voz alta. O terror atomiza-nos, e os regimes tirânicos alimentam-se dessa atomização. O único antídoto para isso é a solidariedade. Conhecemos a famosa citação de Martin Niemöller, o simpatizante da direita alemã que se tornou prisioneiro político dos nazis: "Primeiro vieram atrás dos socialistas, e eu não me pronunciei – porque não era socialista. Depois vieram atrás dos sindicalistas, e eu não falei – porque não era sindicalista. Depois vieram buscar os judeus, e eu não falei – porque não era judeu. Depois vieram atrás de mim – e já não havia ninguém para falar por mim".

Líderes como Donald Trump são regularmente aplaudidos pela sua “honestidade”, mas essa honestidade não corresponde à ideia de falar verdade no sentido do que se pode empiricamente provar como verdadeiro – corresponde, antes, a falar sem qualquer filtro, mesmo quando o que se está a dizer é o oposto do que é verdadeiro. Isto coloca um desafio aos cidadãos em geral, e aos jornalistas em particular, tornando ainda mais difícil navegar a realidade e reportá-la nos dias que correm. Desde que Trump anunciou a sua primeira candidatura à presidência, há uma década, os jornalistas têm tentado combater a desinformação com factos, mas isso não parece ser suficiente, nem nos EUA, nem na Europa. Qual é o caminho?
O que os apoiantes de Trump entendem como “honestidade” é o tipo de libertação da repressão que Freud descreveu em “A Civilização e os seus Descontentamentos: a livre expressão de Eros e Thanatos”. Hoje, se virmos uma mulher a andar na rua e desejarmos violá-la, é perfeitamente admissível expressá-lo em voz alta. Freud dir-nos-ia que a civilização se baseia na repressão. A libertação dessa repressão é a verdadeira libertação – pela qual pagamos o pequeno preço da destruição da civilização. E estamos a pagar esse preço.

As possibilidades tecnológicas de disseminação e consumo de informação – e desinformação – não têm precedentes. É um alvo em movimento: a tecnologia acelera mais rapidamente do que conseguimos compreender o problema e formular soluções. Em 2016, os jornalistas americanos ficaram sem saber o que fazer. Estavam habituados a verificar factos individuais – não estavam habituados a um completo afastamento da realidade empírica. E ninguém conseguia verificar os factos tão rapidamente quanto Trump conseguia mentir.

Portanto, há aqui dois desafios. Um é abanar a sociedade, para que reconheça as implicações aterradoras da livre expressão da violência e da crueldade. O outro é encontrar métodos para fundamentar o nosso discurso na verdade empírica.

Diz que “a grande lição de 1933 é que se deve sair mais cedo do que tarde”, num paralelismo entre o que aconteceu na Alemanha, com a ascensão de Adolf Hitler ao poder, e o que está a acontecer agora nos EUA. Porque é que decidiu abandonar o seu país-natal?
Receio que a mudança da minha família para Toronto tenha sido um pouco dramatizada de forma absurda. Na verdade, não é assim tão dramática. Foi uma decisão familiar muito gradual e complexa, que começou muito antes das eleições. Por um lado, Yale é uma instituição excecional; adorei ensinar em Yale, tenho lá amigos e colegas de quem sentirei muitas saudades. Por outro lado, nunca pensei ficar tanto tempo na mesma cidade ou na mesma instituição; parecia que estava na altura de mudar a meio da carreira.

Há muito que queria criar os meus filhos num lugar onde não houvesse tanta violência armada – mesmo em tempos muito melhores politicamente, a quantidade de violência armada nos Estados Unidos é horrível. New Haven [a cidade do Connecticut que alberga a Universidade de Yale] fica a menos de uma hora de Sandy Hook, onde uma turma inteira de alunos do primeiro ano foi assassinada por um atirador numa escola primária há pouco mais de 12 anos. Na altura, um dos meus alunos de licenciatura trabalhava como paramédico a tempo parcial e foi um dos primeiros a responder. Chegou ao local e não havia nada a fazer – estavam todos mortos.

A posse de armas per capita é mais elevada nos Estados Unidos do que em qualquer outra parte do mundo. Sou eslava e sabe o que Anton Chekhov disse sobre as armas? "Quando a arma está em cena, tem de disparar até ao fim do último ato." Receio que isso seja verdade tanto na vida quanto no teatro. Em qualquer sábado à noite em New Haven, as urgências estão cheias de vítimas de ferimentos provocados por armas de fogo.

Foi por isso que decidiu ir dar aulas na Universidade de Toronto?
A Munk School for Global Affairs começou a recrutar-me a mim e ao meu marido, Tim Snyder, há cerca de três anos. E há muitas razões pelas quais não só Toronto em geral, mas também a Munk School da Universidade de Toronto em particular, eram especialmente atrativas. Estudei na Universidade de Toronto nos anos 90 e adorei tanto a cidade como a universidade. A Munk foi concebida para promover e apoiar a interdisciplinaridade, o envolvimento, tanto académico como público. Há lá um grupo fantástico de académicos, liderado pela extraordinária cientista política Janice Stein, muito inspiradora para mim.

O Tim e eu viemos para Toronto em agosto de 2024 com os nossos filhos, num ano sabático de Yale. Por isso, já estávamos a viver aqui durante as eleições de novembro. E é muito provável que tivéssemos ficado em Toronto e aceitado as ofertas da Munk mesmo que Kamala Harris tivesse vencido. O meu marido não é uma pessoa ansiosa por natureza; se estivesse sozinho, teria regressado a New Haven, não apesar, mas precisamente por causa da vitória de Trump, para lutar pela democracia dos Estados Unidos.

Mas aceitou mudar-se pela família?
Sim, concordou em ficar em Toronto por mim e pelos nossos filhos. Estou muito disposta a assumir a minha própria ansiedade, mas encolho-me quando vejo a imprensa infligir-lhe a minha ansiedade e cobardia. “Fugir” é o tipo de palavra que quer Jason Stanley quer eu, enquanto judeus neuróticos, usaríamos – mas o Tim não foge.

A minha posição é influenciada pelo facto de, apesar de ser americana, não ser uma americanista – ou seja, o meu trabalho intelectual sempre se centrou na Europa Central e de Leste. Há muito que estou mais empenhada na Ucrânia do que nos Estados Unidos, e muito do que faço é desempenhar o papel de mediadora cultural, ajudando os americanos a compreender a Europa de Leste.

A minha vida intelectual nunca esteve centrada no meu próprio país, o que talvez contribua para o meu sentimento geral de que é possível trabalhar em prol do bem a partir de onde quer que seja – ainda que de formas diferentes. Além disso, tendo saído dos Estados Unidos, sinto-me ainda mais obrigada a falar sobre o que se está a passar lá, em nome dos meus amigos e colegas que se encontram em posições mais vulneráveis.

A relevância da Educação Ambiental

Margaret Raven (artista plástica nascida em 1962, na Polónia)

Sobre a relevância da educação ambiental para enfrentar estes tempos de decisões desastrosas e enfrentar os lóbis sem que pessoalmente vamos abaixo.

EIXO 3 – Educação e literacia ambientais: com este eixo pretende-se a definição de um modelo de educação ambiental liderado pela autarquia e articulado entre os vários setores da sociedade. (ODS, Agenda 2030)

Por que a educação ambiental ainda é tão desvalorizada?
Em tempos de crise climática, desastres ambientais cada vez mais frequentes e perda acelerada da biodiversidade, seria natural supor que a educação ambiental ocupasse um lugar central na formação de cidadãos conscientes e responsáveis. No entanto, a realidade é outra: ela continua à margem, tratada como algo secundário, quando deveria ser uma das bases do nosso futuro coletivo.

Por que é que isso acontece?
Em primeiro lugar, há um desinteresse estrutural por parte de muitos governos, autarquias, programas eleitorais e mesmo até nos sistemas de ensino. A educação ambiental costuma ser mencionada apenas como um “tema transversal”, o que, na prática, significa que não tem espaço nem tempo dedicados. Muitas escolas falam e fazem reciclagem ao longo do ano e acreditam ter cumprido o seu papel. Mas a educação ambiental vai muito além de plantar árvores ou recolher lixo. Trata-se de formar pensamento crítico, compreender relações ecológicas, refletir sobre consumo, justiça social e os limites do planeta.

Outro problema é a visão simplista e despolitizada com que o tema é tratado. Fala-se de meio ambiente como se fosse uma questão neutra, técnica, quando na verdade está profundamente ligada à política, à economia e às desigualdades sociais. Falar de educação ambiental é também falar de poder, de escolhas coletivas e do modelo de desenvolvimento que queremos.

Além disso, a sociedade de consumo — amplamente reforçada pela media — cria uma cultura de individualismo e imediatismo, que mina qualquer esforço educativo voltado para a coletividade e o longo prazo. É difícil competir com um mundo onde o valor está em “ter”, e não em “ser” ou “pertencer”. A educação ambiental exige tempo, reflexão e ação, tudo o que a lógica apressada do consumismo não incentiva.

Também não podemos ignorar o desconhecimento ou cepticismo de muitos diante da gravidade da crise ambiental. Há quem acredite que tudo será resolvido pela tecnologia, ou pior, que tudo é exagero. Essa visão conforta, mas é perigosa. Sem consciência ambiental, as soluções que a ciência propõe não encontram solo fértil na sociedade.

O que falta, portanto, é valorizar a educação ambiental como prática transformadora, conectada à realidade local, ao território, ao quotidiano das pessoas. Quando ela é vivida na prática — em projetos escolares, ações comunitárias, hortas urbanas, defesa de rios e matas — ela deixa de ser abstrata e torna-se urgente, palpável, viva.

Reconhecer o papel da educação ambiental é mais do que uma escolha pedagógica: é um acto político, ético e existencial. Quem não a reconhece, talvez ainda não tenha entendido que não haverá futuro viável sem ela.

Bons exemplos
1. A resiliência de Idanha-a-Nova. Idanha-a-Nova integrou o primeiro geoparque português, da rede geoparques reconhecidos pela UNESCO. Foi a primeira Reserva da Biosfera em Portugal. Sendo uma vila, foi a primeira Cidade Criativa portuguesa, igualmente com a chancela da UNESCO, para a área da Música. Em 2018, tornou-se na primeira Bio-região portuguesa. E em 2013 a UE elegeu-a como a melhor Bio-região da Europa. Eis como a periferia se tornou centro.

2. 90% dos portugueses ‘desconfia’ da sustentabilidade das marcas. 90% dos consumidores portugueses acreditam que as marcas afirmam ser sustentáveis apenas para fins promocionais, concluiu o 3º Relatório Global de Consumo MARCO 2024, promovido pela MARCO em parceria com a Cint, empresa de investigação tecnológica.

Depois de Portugal, segue-se a África do Sul com 86% e o México com 85%, indica a análise.

De acordo com o estudo, este sentimento é particularmente significativo nos países ocidentais, onde existe uma tendência para exigir maior transparência e responsabilidade por parte das marcas. A análise revelou que a grande maioria dos consumidores a nível global (81%) suspeita que as empresas estão a utilizar as suas credenciais de sustentabilidade como instrumentos de marketing, em vez de demonstrarem um compromisso genuíno com a responsabilidade ambiental e social. 

O relatório revelou também que os consumidores estão cada vez mais motivados a fazer escolhas sustentáveis no dia a dia, com mais de metade dos inquiridos portugueses (58%, valor semelhante à média global) a revelarem comprar produtos em segunda mão para promover práticas de consumo mais sustentáveis; 95% assume a importância da reciclagem para poupar recursos naturais, contra 90% a nível global; e 66% consideram positiva a utilização de automóveis elétricos para proteger o ambiente, em linha com a média global de 67%. 

Além disso, 44% dos portugueses assumiu que consideraria deixar de andar de avião por questões de consciência ambiental, um valor que contrasta com a média global de 53%.

“Estas conclusões sublinham a importância da transparência e da responsabilidade nas iniciativas de sustentabilidade das empresas. À medida que os consumidores se tornam mais exigentes e esperam provas de um compromisso genuíno, as empresas devem navegar cuidadosamente neste novo cenário. Uma comunicação eficaz e ações tangíveis são mais cruciais do que nunca para criar e manter a confiança dos consumidores”, referiu Diana Castilho, Head of Portugal da MARCO.

Trentemøller: Candy Tongue (feat. Marie Fisker)


Vídeo original aqui

A fountain of loveThe beginning of a touchSafe In the eye of a stormAs your mind leavesThe house
Morning is breaking upYour body's stirredAnd your house is burning up
Candy Tongue...
The funny things you wantIs never never gonna be enoughHunting on a blood buzz
Candy Tongue, Dandy tongueI believe it's coming onOh Clarice, Oh ClariceTell tail of epiphanyCandy Tongue
Spirit of one animalStronger than me, Candy tongueFor better or worse you're falling offSkyscrapers high your line
Candy Tongue, Dandy tongueI believe it's coming onOh Clarice, Oh ClariceTell tail of epiphanyCandy Tongue, Candy tongueTurn the pages and be doneBe with me, be with meTrick the tricks of memory
Be with me, be with meTrick the tricks of memory
Candy tongue...

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Nosso Planeta, Nosso Legado - Yann Arthus-Bertrand 2020


"Nosso Planeta, Nosso Legado" (Legacy - Notre Héritage), lançado em 2020, é um documentário dirigido por Yann Arthus-Bertrand que explora a relação entre a humanidade e o planeta, com um foco especial na crise ambiental. O filme apresenta uma visão sensível e radical do mundo, destacando a beleza da natureza e os danos causados pela ação humana, ao mesmo tempo em que oferece esperança e soluções para um futuro mais sustentável. 

Em "Nosso Planeta, Nosso Legado", Arthus-Bertrand compartilha suas próprias experiências e reflexões sobre a natureza e a humanidade, buscando despertar a consciência sobre a urgência da crise ambiental e a necessidade de ações individuais e coletivas para proteger o planeta. O filme aborda temas como o desmatamento, as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a importância da água doce, utilizando imagens impactantes e uma narrativa envolvente. 

O documentário também apresenta soluções e caminhos para a reconciliação com a natureza, mostrando exemplos de práticas sustentáveis e iniciativas de conservação. Arthus-Bertrand enfatiza que a mudança é possível e que cada indivíduo pode fazer a diferença por meio de escolhas conscientes e ações responsáveis. 

"Nosso Planeta, Nosso Legado" não é apenas um filme sobre a crise ambiental, mas também um apelo à ação e um convite à esperança, mostrando que um futuro mais sustentável e equilibrado é possível se a humanidade se unir para proteger o planeta

Dia Mundial da População


Crónica de Pedro Vieira

não é não.
não, filha, a imigração não está no topo dos problemas deste retângulo amaldiçoado e abençoado; a desigualdade, o acesso à habitação, à saúde e a educação de qualidade, sim.

não, amor, não são os imigrantes amontoados em camaratas que andam a destruir o teu direito constitucional à habitação; são os "imigrantes" dos vistos gold, os fundos imobiliários predadores e os autarcas amigos de hotéis de 5 estrelas e alojamentos locais e fantasias de equídeos com chifres que estão a rebentar com o tecido social das cidades.

não, miga, os imigrantes não estão cá a mamar subsídios e a viver à tua conta; eles andam a contribuir para um sistema que é desbaratado pelos destruidores de bancos e pelas multinacionais à boleia de borlas fiscais e pelos liberais com pés de barro que se agarram às tetas do estado que adoram vilipendiar.

não, fofo, a imigração nunca foi tão alta como agora; continua a haver 3% de deslocados no mundo, valor igual desde o final da segunda guerra mundial, lançada pelos tiranos que o teu novo partido favorito gosta de glosar.

não, meu bem, o teu novo partido favorito não existe para te defender e gritar "vergonha"; existe para te convencer que a culpa é dos de baixo, enquanto mama nos de cima.

não, mor, os imigrantes não roubam empregos e puxam os salários para baixo; eles deslocam-se para os lugares onde há trabalho disponível, mesmo por valores indecentes, e muitos regressam às famílias e lugares de origem quando têm a vida mais orientada.

não, coração, não és só tu que preferes estar junto dos teus; eles também.

não, querido, os imigrantes não têm sangue de monhé ou de preto; têm sangue com hemoglobina como o teu.

não, riqueza, os imigrantes não matam mais do que o teu companheiro violento e abusador.

não, minha jóia, os imigrantes não estão a invadir-nos; em muitos lugares, estão a repor vida, num país que adora exportar cortiça, conservas e jovens sem futuro.

não, cariño, tu não és descendente de um pastor de cabras da zona de Viseu com pouco jeito para escolher guarda-costas; és descendente de iberos que ninguém sabe de onde vieram, de celtas e de romanos, de fenícios, cartagineses, mouros, castelhanos e de franceses, mais os negros de África e de europeus de fracas sortes e de gente dos orientes. e de neandertais, também, e às vezes nota-se. és como um daqueles pratos do honest greens - cantina preferida dos colarinhos brancos jovens e dos empreendedores, na qual são os imigrantes que cozinham - aqueles pratos com muitas cores e paladares, sem perceberes bem o que lá está.

não, meu doce, os imigrantes não são os teus inimigos de classe; esses são os que enviam anualmente o valor de um SNS para offshores, enquanto se riem da tua fúria (e das tuas filas de espera e das tuas crianças nascidas em ambulâncias) no deck de um iate.

não é não é não

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Mariana Mortágua e Gary Stevenson à conversa



Gary Stevenson — Economista britânico, ex-trader e YouTuber
Nascimento: 1986, Ilford, Leste de Londres
Origem: Cresceu numa família da classe trabalhadora; o pai trabalhava nos correios.

🎓 Formação Académica
Estudou Matemática e Economia na London School of Economics (LSE)
Mais tarde fez um mestrado (MPhil) em Economia na Universidade de Oxford

💼 Carreira como Trader
Entrou para o Citibank em 2008 através de uma competição baseada num jogo de cartas (uma forma pouco convencional de recrutamento)
Em poucos anos, tornou-se milionário. Em 2011, foi alegadamente o trader mais lucrativo do Citibank, com lucros estimados em cerca de 35 milhões de dólares (embora essa cifra seja contestada)
Abandonou o setor financeiro em 2014 devido a exaustão e ao desencanto com o sistema económico

📢 Ativismo e YouTube
Criou o canal GarysEconomics no YouTube em 2020
O canal tem mais de 1,3 milhões de subscritores
Explica temas complexos de economia, com foco em desigualdade, inflação e crítica ao sistema económico atual
Contribui regularmente com comentários económicos para a imprensa britânica, como a BBC e o The Guardian
 
📚 Livro
Autor de The Trading Game: A Confession (2024)
Um memorial autobiográfico que narra a sua ascensão no mundo financeiro, o colapso emocional, e as suas críticas ao sistema económico
Foi muito elogiado por oferecer uma visão interna rara e honesta da alta finança

💰 Política Económica
Defensor de impostos sobre grandes fortunas (acima de £10 milhões) como forma de combater a desigualdade extrema


Suécia abandona educação digital: retorno aos livros impressos na escola


Gesto e política louvável: a Suécia, único país que, desde a década de 1990, buscou implementar a educação 100% digital nas escolas, voltou atrás e decidiu investir, ao longo de 2023, 45 milhões de euros na distribuição de livros didáticos impressos.

A leitura e os livros trazem uma série de vantagens para o desenvolvimento pessoal, intelectual e emocional. Aqui estão as principais:

1. Expansão do conhecimento
Livros são fontes ricas de informação e sabedoria.
Permitem aprender sobre qualquer tema: ciência, história, arte, psicologia, entre outros.

2. Estimulação mental
Ler exercita o cérebro, melhora a memória e previne o declínio cognitivo.
A leitura regular está associada a maior agilidade mental.

3. Redução do stress
Ler um bom livro pode funcionar como uma forma de escapismo saudável.
A imersão numa história ajuda a relaxar e a desligar-se das preocupações do dia a dia.

4. Melhoria do vocabulário e da comunicação
Quanto mais se lê, mais palavras se aprende.
A leitura melhora a capacidade de expressão oral e escrita.

5. Desenvolvimento do foco e da concentração
Ler exige atenção contínua, o que treina a capacidade de concentração num mundo cheio de distrações.

6. Abertura para novas perspectivas
Os livros permitem viver outras vidas, conhecer culturas e realidades diferentes.
Aumentam a empatia e a compreensão do mundo.

7. Estímulo à criatividade e imaginação
Especialmente em crianças, a leitura desenvolve a imaginação e incentiva a criação de novas ideias.

8. Uso produtivo do tempo
Em vez de gastar tempo com conteúdos superficiais, a leitura oferece crescimento pessoal e intelectual.