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Bioterra
segunda-feira, 28 de abril de 2025
Staying with the discomfort of a situation
domingo, 27 de abril de 2025
Sobre o luto
sábado, 26 de abril de 2025
Não, Elon, empatia não é sinal de fraqueza
A empatia é a razão pela qual ainda aqui estamos.
Na escola, todos aprendemos sobre a teoria de Darwin da “sobrevivência do mais apto”. Talvez se surpreenda ao descobrir que não foi ele quem cunhou este termo. Foi Herbert Spencer quem surgiu com isso cinco anos depois:
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Como provavelmente também sabe, Spencer estava interessado em implementar hierarquias de seres humanos, e as suas ideias foram utilizadas para justificar a eugenia.
Ao longo dos anos, a ideia de “sobrevivência do mais apto” tem sido amplamente interpretada como significando que os mais egoístas e os mais agressivos sobreviverão. Quando se olha para os escritos de Darwin, no entanto, verá algo bastante diferente: ele enfatizou que são os simpáticos que sobrevivem e prosperam.
A simpatia é aqui utilizada por Darwin para significar algo semelhante à empatia ou compaixão, inspirado pelo uso do termo por Adam Smith em "A Teoria dos Sentimentos Morais"
“A palavra simpatia, no seu significado mais próprio e primitivo, denota o nosso sentimento de solidariedade com os sofrimentos, e não com os prazeres, dos outros.”
É certo que, numa interação individual entre uma pessoa egoísta e uma pessoa compassiva, a pessoa egoísta pode vencer. Estão dispostos a fazer coisas que magoam outras pessoas e a sacrificar a sua moral (ou seja, atenuar a sua resposta empática).
Mas, em grupos, tudo muda. Os grupos compassivos vencem os grupos egoístas.
Os compassivos sobrevivem porque trabalham em conjunto. Ao utilizarem a sua empatia, são capazes de construir relações; nestas relações, cuidam uns dos outros, partilham recursos e exploram pontos fortes únicos. O bem-estar do grupo é o seu objetivo, e trabalharão com coragem e cooperação para o alcançar. Os egoístas não podem fazer nenhuma destas coisas, porque estão a fazê-lo apenas para si próprios. Um grupo de indivíduos egoístas desintegra-se rapidamente, voltando-se uns contra os outros e entrando em colapso interno.
Os compassivos também prosperam porque as atividades que promovem a sua sobrevivência — praticar a empatia, construir relações e cuidar uns dos outros — também conduzem à felicidade. O egoísta não pode florescer porque ninguém pode ser feliz sozinho. A miséria obriga-os a comportarem-se de forma ainda mais egoísta, causando ainda mais danos aos outros.
Conforme descrito pelo eminente biólogo E.O. Wilson, “O egoísmo supera o altruísmo dentro dos grupos. Os grupos altruístas superam os grupos egoístas. Tudo o resto é comentário.”
Quando me deparei com esta investigação pela primeira vez na pós-graduação, fiquei chocado. Foi um dos primeiros momentos em que percebi que as minhas "crenças leigas", como os académicos lhes chamam, não eram apenas moldadas pela cultura Old Happy, mas fundamentalmente distorcidas por ela. Por que razão a sobrevivência do mais apto passou a ser concebida como “a vitória egoísta”? Por causa das forças do capitalismo, do individualismo e da dominação, todos os quais centralizam o eu acima dos outros. Se acredita que o estado natural do ser humano é egoísta, então estas estruturas sociais não são apenas necessárias, mas desejáveis. É benéfico para o Velho Feliz conceber que estamos podres até à medula.
Mas, à medida que me aprofundei na investigação, aprendi que cada grande salto no desenvolvimento humano é o resultado de se tornar cada vez mais cooperativo, atencioso e prestável. Ao apoiarmo-nos nas nossas ligações e no nosso sentido de serviço aos outros, e não nos afastarmos deles. Vendo os outros como semelhantes a nós, ligados a nós, queridos por nós. Creio que é este o sentimento que sustenta a famosa citação de Martin Luther King Jr.: “O arco do universo moral é longo, mas curva-se em direção à justiça”. Isto acontece porque a nossa natureza mais profunda é compassiva.
À medida que enfrentamos outro momento crucial na história da humanidade, somos chamados a evoluir para uma versão ainda mais compassiva de nós próprios. Acredito que esta é a única forma de ultrapassarmos o que vem a seguir.
Quando olho para o movimento Make America Great Again, vejo um grupo de pessoas que são contra a nossa evolução coletiva. Não querem apenas que interrompamos o aprofundamento da nossa compaixão, querem que desaprendamos o nosso progresso e desmantelemos o que construímos. Ao convencerem-nos de que a empatia é uma fraqueza, tentam silenciar o nosso dom mais humano em favor dos seus interesses. Querem regressar a uma época em que as pessoas das comunidades marginalizadas não tinham direitos e oportunidades. Querem ter a liberdade de prejudicar os outros para obter mais para si. Querem acabar com as vitórias em compaixão pelas quais os nossos antepassados tanto lutaram.
É por isso que sei que nunca terão sucesso. As suas ações não estão alinhadas com a nossa natureza humana mais profunda. O progresso só pode ser alcançado se nos tornarmos mais atenciosos, e eles estão, dia após dia, a tornar-se mais odiosos.
Podem conseguir vitórias no curto prazo, sim. Podem ser capazes de dominar os indivíduos, é verdade. Mas se nós, enquanto grupo de pessoas, nos unirmos em compaixão, então podemos confiar que venceremos.
O nosso maior desafio agora é criar este grupo de indivíduos compassivos. Neste momento estamos fragmentados, desligados, separados. Quase toda a gente ainda opera sob a sua antiga visão do mundo feliz, acreditando que a sua felicidade pessoal é mais importante do que a felicidade dos outros e que ajudar os outros é um anátema para o bem-estar. Esta é a crença leiga que deve cair para garantir a nossa felicidade coletiva.
Precisamos de aprender a amar-nos a nós próprios e uns aos outros de novo, reconhecendo que o amor é uma ação, uma prática, uma disciplina. Devemos olhar profundamente para nós próprios e perguntar: onde é que me estou a recusar a demonstrar compaixão aos outros e como posso ultrapassar isso? Devemos reunir-nos com aqueles que partilham o nosso objectivo de construir um mundo onde todos possam ser felizes e construir uma comunidade real e significativa que nos ajude a tornar-nos a versão mais empática e compassiva de nós próprios.
Não será fácil. Isso também faz sentido. Quem disse que evoluir enquanto espécie seria fácil? No entanto, diria que é a coisa mais valiosa a que nos podemos dedicar. Uma vida dedicada ao aprofundamento da compaixão seria uma vida bem vivida e criaria um legado que se estenderia pelas gerações futuras. Talvez seja por isso que aqui estamos. Talvez devêssemos começar já.
Nota: Neste artigo, não me foquei nas formas como até mesmo atribuir a empatia como uma qualidade da cultura ocidental também é incorreto, dadas as inúmeras formas como prejudicamos tantos milhares de milhões de pessoas na nossa busca pela dominação. Fonte
O Dia da Terra e o compromisso pelo futuro
Há 55 anos nasceu um movimento global em defesa do nosso planeta. Milhões de pessoas uniram-se numa manifestação coletiva por uma agenda ambiental forte, centrada na proteção do ar, da água e dos solos. Liderada pelo senador e ativista norte-americano Gaylord Nelson, esta mobilização histórica deu origem ao Dia da Terra - um marco que ultrapassou fronteiras, culturas e ideologias, consolidando-se como a maior expressão planetária de consciência ecológica e ação transformadora.
Desde 1970, o mundo progrediu. As leis ambientais foram reforçadas, criaram-se agências reguladoras, baniram-se substâncias tóxicas e a educação ambiental ganhou visibilidade e força. Mas o espírito de urgência que impulsionou o primeiro Dia da Terra não só permanece como se tornou mais vital do que nunca. Hoje, enfrentamos uma ameaça sem precedentes, que põe em risco tudo o que conquistámos e desafia a humanidade a agir com coragem e solidariedade: a crise climática.
A data de 22 de abril, oficialmente reconhecida pelas Nações Unidas, alerta para desafios como a poluição, a degradação ambiental e a perda de biodiversidade. Mas a realidade exige mais do que sensibilização. As emissões de gases com efeito de estufa continuam a aumentar; as florestas, outrora santuários de vida, sucumbem ao avanço de interesses predatórios; os oceanos aquecem; os ecossistemas colapsam e a perda de biodiversidade atinge níveis alarmantes. E é gritante a injustiça quando os mais afetados por esta crise são justamente os que menos contribuíram para a causar.
Neste contexto, não há justiça climática sem justiça social. As cidades precisam de se adaptar, investindo em soluções baseadas na natureza, infraestruturas verdes e modelos de governança mais resilientes e participativos. A forma como produzimos, consumimos e nos organizamos, deve ser repensada com base em princípios circulares, regenerativos e sustentáveis.
Mas há uma outra crise, mais silenciosa e igualmente perigosa: a erosão da confiança. A descrença nas instituições, o imobilismo político e o sentimento generalizado de impotência corroem a nossa capacidade de ação coletiva. Talvez seja este o maior risco do nosso tempo: deixarmos de acreditar uns nos outros e na força transformadora da ação conjunta.
O legado do Dia da Terra continua a ser profundamente relevante. Ele recorda-nos que a mudança é possível. Que ela já aconteceu antes, quando multidões se uniram em nome da vida, da dignidade e da justiça ambiental. E que pode voltar a acontecer. Para isso, precisamos de ciência, tecnologia e inovação, mas também de uma esperança ativa; aquela que se traduz em escolhas conscientes, coragem política e compromisso cívico.
Como afirmou recentemente Denis Hayes, organizador do primeiro Dia da Terra: a crise climática é, simultaneamente, o maior desafio e a maior oportunidade da nossa geração. Concordo plenamente. É tempo de transformar o medo em responsabilidade, e a desesperança em projeto. O Dia da Terra não é apenas uma data no calendário; é um importante apelo à mobilização planetária.
Celebrar o 22 de abril é mais do que um gesto simbólico: é um ato ético, político e profundamente necessário. É uma renovação. Um pacto. Uma declaração de pertença. É afirmar que ainda acreditamos. Que ainda lutamos. Que ainda sonhamos. Porque a Terra - esta casa comum, bela e frágil - justifica todo o nosso empenho.
Música do BioTerra: Silverchair - Tomorrow (US Version)
Gravado em apenas 9 dias, por um grupo de músicos que tinham apenas 15 anos de idade (!), "Frogstomp" acabou por ser uma enorme e agradável surpresa para o mundo do rock dos anos 90, devido à sua energia e qualidade. Foi desse álbum que apareceram canções que se transformaram em autênticos hinos dos Silverchair como "Pure Massacre", "Israel´s Son", "Shade" e "Tomorrow", que vos deixo como forma a celebrar esta banda.
sexta-feira, 25 de abril de 2025
O dia em que Portugal acordou Livre
Numa suave manhã de abril de 1974, Portugal despertou agitado ao coro da mudança. O perfume dos cravos mesclava-se com as aspirações de uma nação cansada de anos sob o jugo opressivo da ditadura. Neste dia singular, o descontentamento silencioso do povo encontrou eco no coração daqueles que ousaram sonhar, anunciando o fim de um regime que sufocava a liberdade e reprimia o progresso social, económico e cultural do país. Portugal erguia-se, enfim, com a ambição de prosperar, deixando para trás um caminho solitário que havia trilhado durante demasiado tempo.
A Revolução dos Cravos não nasceu da violência, mas da coragem. Foi o grito sereno de um povo que já não aceitava viver calado, a coragem de militares que escolheram a pátria e o povo em vez da opressão. Foi o instante sublime em que a utopia se tornou possível, e Portugal, cansado da noite longa da ditadura, amanheceu livre.
Essa revolução, embora nascida em solo português, ecoou muito além das fronteiras, como um hino universal à dignidade humana. O mundo viu um povo erguer-se com cravos nas mãos e justiça no peito. Homens e mulheres comuns tornaram-se heróis anónimos de uma mudança que brotou das entranhas da sociedade - com resiliência, com sonho, com a sede de um novo amanhã.
O fim da ditadura não foi apenas o desmantelamento da censura ou a criação de instituições democráticas. Foi o início de uma caminhada intensa, nem sempre fácil, mas profundamente transformadora. A democracia chegou com debates, com escolhas difíceis, com o peso e a beleza da liberdade. Trouxe conquistas nos direitos civis, na igualdade de género, na afirmação das minorias, e na ousadia de construir uma economia moderna e aberta ao mundo.
Foi também um renascimento cultural. A palavra voltou a ter valor. A arte, a literatura, o cinema e a música floresceram como sementes guardadas durante décadas, à espera de solo fértil e céu limpo. Expressar-se tornou-se não só um direito, mas um dever cívico, e o país inteiro respirou, finalmente, em liberdade.
O legado do 25 de Abril é eterno enquanto resistirmos à amnésia coletiva. É farol e bússola. Lembra-nos que a liberdade é conquistada, não concedida. Que a democracia se cultiva todos os dias, com participação, com justiça social, com o combate à corrupção e à desigualdade.
Hoje, ao celebrarmos a liberdade, é vital recordar a força dos que nos trouxeram até aqui. Porque num tempo em que tantas conquistas parecem frágeis, revisitamos Abril não como nostalgia, mas como promessa. Promessa de que o povo português saberá sempre - se preciso for - voltar a encher as ruas de coragem, de cravos e de futuro.
quinta-feira, 24 de abril de 2025
Infalibilidade ventural
Quem pensa que vai estar muito ocupado nos próximos dias, por ter de assistir a dezenas de entrevistas e debates, a fim de tomar uma decisão responsável no dia 18 de Maio, imagine a trabalheira que está reservada a Deus Nosso Senhor. O Criador terá de estar atento não só às eleições portuguesas, que vão determinar a composição do novo governo, como também à eleição do novo Papa, no Vaticano. Como se sabe, Ele está igualmente empenhado nas duas.
Se bem se lembram, no dia 12 de Dezembro de 2020, André Ventura revelou: “Deus confiou-me a difícil mas honrosa missão de transformar Portugal.” E também é sabido que os cardeais, quando se reúnem para eleger o Papa, requisitam a assistência do Espírito Santo. O mesmo Espírito Santo protege depois o Papa do erro, sempre que o Santo Padre fala de matérias de fé e moral. É nisso que consiste a chamada infalibilidade papal, que é dogma. Para André Ventura, Deus reservou um modelo de infalibilidade ligeiramente diferente: o presidente do Chega tem a protecção do espírito santo de orelha. Sempre que ele ouve alguma coisa que lhe indica que o melhor é contradizer-se, por mais flagrante e ridícula que seja a contradição, é isso que faz. Trata-se da infalibilidade ventural: que ele mais tarde ou mais cedo vai dar o dito por não dito é uma lei absolutamente infalível. Já tinha acontecido com o apoio às tarifas de Trump, que Ventura começou por considerar óptimas e passou a achar péssimas, quando verificou que não tinham o apoio de ninguém. E agora aconteceu novamente, de forma ainda mais espectacular. No dia da morte do Papa Francisco, Ventura publicou a seguinte mensagem: “Hoje é um dia de tristeza e sofrimento para os cristãos do mundo inteiro. O Papa Francisco deixa uma marca inspiradora de proximidade e simplicidade que a todos tocou profundamente. Que a sua vida intensa seja
um exemplo para todos os que querem servir a causa pública!”
E acrescentou, a seguir a esta exclamação, o emoji das mãozinhas a rezar, em sinal de agradecimento. No entanto, em Outubro de 2020, tinha dito numa entrevista: “Eu acho que este Papa tem prestado um mau serviço ao cristianismo. Acho. Acho que tem mostrado a esquerda revolucionária quase como heróica e a esquerda europeia marxista como a normalidade. Acho que este Papa tem contribuído para destruir as bases do que é a Igreja Católica na Europa e acho que em breve vamos todos pagar um bocadinho por isso.” E há dois anos, quando o Papa visitou Portugal, Ventura exilou-se na Madeira, para o evitar. Portanto, o mesmo Ventura que achava que o Papa prestava um mau serviço ao cristianismo, considera agora que a sua vida foi um excelente exemplo para todos. Quando estava vivo, o Papa não lhe agradava, mas depois de morto já o acha admirável. Pode ser que Ventura também venha ainda a gostar muito da democracia, depois de ela morrer. Talvez seja por isso que se tem esforçado tanto para precipitar o seu óbito.
Smartphones na escola: entre o vício e a inteligência
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Um duplo disparate
Um duplo disparate. Primeiro, porque o Luto Nacional deveria ter sido marcado para os dias de 26 (data do funeral do Papa) a 28, por mais que isso prejudicasse as agendas de suas excelências que irão viajar até Itália. Em segundo porque: Eh pá! Tony Carreira!?! Fonte
Nem em Itália:
"O Governo italiano declarou cinco dias de luto nacional pela morte do Papa, a partir desta terça-feira e até sábado, dia do funeral de Francisco. (...)
O período de luto vai coincidir, na sexta-feira com as comemorações do 25 de Abril, dia em que Itália comemora o fim da ditadura fascista e o início da libertação do país da ocupação nazi, cujo 80.º aniversário se assinala este ano.
Para o porta-voz do Livre, a decisão revela "uma singular falta de respeito pela democracia e pelo 25 de Abril", sobretudo no ano em que se assinalam os 50 anos das primeiras eleições livres em Portugal.
Rui Tavares considerou ainda que o adiamento das celebrações da Revolução dos Cravos desrespeita o próprio Papa Francisco que - recordou - "foi cidadão de um país que viveu em ditadura, (...) alguém que saberia do papel pioneiro do 25 de Abril". Fonte
Scolimus hispanicus
A exuberância das suas belas flores amarelas era o que dava nas vistas. As suas sépalas e pétalas, atrás e à frente, davam volume e magnitude ao deleite de quem olhava e via, quando a primavera estava de abalada e o verão teimava em impor-se, ocupando o seu lugar, entrando de mansinho, com os dias a estenderem-se, nas horas de que se fazem, na luz que os ilumina, intensa e límpida e o calor que prolongava as tardes, entrando pela noite, com passagem serena pelo ocaso.
Claro está que era o que doirava o cardo, numa simbiose perfeita de luz ou novo brilho do astro, temperatura e cor. E, pois então, florescia o cardo dourado, abrindo botões de par em par ao longo do caule ascendente ou dos muitos que se bifurcavam, enlaçavam, até dar nós. Nenhum destes detalhes escapou às gentes do povo, mestres da observação, lá, onde frequentemente se encontravam, na labuta, no fazer e no desfazer dos dias que, assim, assertivamente o batizou.
Cardo de oiro, ainda, quando o vivo e quase incandescente scolimus, para a ciência, marcava a paisagem, sobressaindo nela, quando tudo à sua volta completava o ciclo vegetativo, empardecendo. De frutos e sementes retardados era assim que assegurava a sua presença anual, regressando no início de cada primavera. Protegiam-se entre os restos que continuariam de picos afiados, atirando-se dolorosamente a quem, distraidamente, por eles passasse.
Então, embora na sua perenidade, já só compunham. E eram a confirmação de uma apanha sábia, movida pela necessidade, mas caprichosa na sustentabilidade. Sabia-se que só a mão humana os controlava sem dizimar. Outros tempos... sem mondas químicas que tudo barbeiam e fazem desaparecer lentamente.
Ainda em março, mas mais em abril, ia-se aos cardos ou tengarrilhas, como se dizia por onde andámos, como se ia aos espargos. Só os picos, logo à nascença nos demoviam. Uma meia, calçada nas mãos, de pouco servia. E ripá-los não era para todos. Requeria agilidade e perícia.
Mas a necessidade é mestra de engenhos e o gostinho especial que conferiam aos cozinhados onde entravam, compensava. E ali à mão, qual dádiva da natureza, com o seu incomparável sabor silvestre (diz quem já provou os criados em estufa).
Eram estes os cardos de uns bons grãos no tarro dos afamados cozinheiros de Herdade.
Ao alcance da mão eram a melhor "mistura" da época, dispensando o que havia na horta.
Com os grãos de molho da noite anterior e os molhinhos de cardos ripados, a que se dava uma diversidade de nomes, bem cedo se chegavam as enormes panelas de ferro ao incandescente braseiro da ampla chaminé da cozinha do Monte.
A ganharia e outro pessoal da lavoura bem precisavam de um jantar (já que à noite se ceava), para repor energias da dura jornada.
Lá chegava o jumento (ou os jumentos), pachorrentamente, com avantajados tarros, nas cangalhas, não fosse o manjar entornar, enquanto tomava o "sabor" do tarro.
Todos comiam do mesmo (ou dos mesmos). À falta de colher, que cada um se encarregava de ter consigo, servia uma côdea de marrocate - que até tornava a iguaria mais apetitosa!
(Hoje sinto mesmo o cheiro, o calor - principalmente humano e solidário - deste ambiente).
quarta-feira, 23 de abril de 2025
Dia Mundial do Livro
Leitura é fundamental para reduzir o stresse e melhorar a concentração, sublinha neurologista Antonio Donaire.
O chefe de Neurologia do Hospital CIMA Sanitas, de Barcelona, Espanha, considerou hoje que a leitura é uma ferramenta positiva na saúde mental das pessoas, sendo “fundamental” para reduzir o stresse, melhorar a concentração e a plasticidade cerebral.
O também diretor da Unidade de Epilepsia daquele hospital, Antonio Donaire, destacou, em declarações à agência Europa Press, que “um dos maiores benefícios da leitura é o seu impacto na plasticidade cerebral e na capacidade do cérebro de criar e fortalecer conexões neurais”.
“Ler é um exercício mental que potencializa o desenvolvimento de novas conexões neurais, contribuindo para uma maior agilidade cognitiva mesmo na idade adulta. Ao ler, exercitamos a nossa capacidade de abstração e análise, o que tem um efeito positivo na prevenção do declínio cognitivo”, explicou Antonio Donaire, em vésperas do Dia Mundial do Livro, que é comemorado na próxima quarta-feira.
A reforçar a sua tese, o especialista citou dados do Ministério da Cultura de Espanha, segundo os quais até 51,2% da população espanhola se considera leitora frequente, numa altura em que o consumo de conteúdos digitais está “a fragmentar” a capacidade de atenção, sendo os livros uma ferramenta que promove a concentração sustentada e a memória de trabalho.
A Europa Press refere também que um estudo da Universidade de Sussex, no Reino Unido, mostrou que seis minutos de leitura foram suficientes para reduzir os níveis de stresse em 68% dos inquiridos.
Estas conclusões foram retiradas após comparar os parâmetros fisiológicos e psicológicos de uma série de voluntários antes e depois da leitura, o que coloca esta atividade como uma das mais eficazes para o relaxamento, acima até mesmo de ouvir música ou de caminhar.
“Dada a híper-conectividade gerada pelas media e o uso constante de dispositivos eletrónicos, a leitura oferece uma alternativa saudável que permite desconectar e reduzir a sobrecarga de informação, afirmou o especialista.
A escolha de um livro promove a atenção sustentada e melhora a memória de trabalho, “aspetos essenciais para manter o equilíbrio emocional e cognitivo”, afirmou também a psicóloga Silvia Mérida Expósito.
Em complemento, Antonio Donaire destacou que a leitura ajuda a reduzir os níveis de cortisol, conhecido como o neurónio do stresse, o que promove uma sensação de relaxamento e bem-estar.
O especialista salientou também que a leitura promove a autorregulação emocional, pois melhora a compreensão e a gestão das emoções próprias e dos outros, um “aspeto chave” num contexto de alta estimulação digital.
É por isso que os especialistas da Sanitas defenderam a necessidade de incentivar a leitura entre as crianças, garantindo um desenvolvimento cerebral positivo e consciente.
terça-feira, 22 de abril de 2025
Dia da Terra
“A cultura ecológica deveria ser um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham resistência ao avanço do paradigma tecnocrático” Laudato Si, 111
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